domingo, 29 de janeiro de 2012
Páginas de um diário (Gabriel)
Diário Literário
28.10.2011 – Reflexão de um sermão (Pe António Vieira)
Pregarei eu em São Luís do Maranhão.
E pregarei eu sob ponto afortunado que Cristo, senhor nosso, doutrinara ou apenas quisera dizer sob palavras gloriosas que empregam os pregadores da nossa terra.
«Vos estis sal terrae»
Pregarei não por apenas pregar, ou querer imitar os outros pregadores, mas pregarei porque desta forma, gente pouco doutrinada se vê pregada.
E pregarei porque os pele-vermelha precisa de quem lhes pregue. E pregarei porque os colonos precisam de quem lhes pregue.
Se, ou é porque o sal não salga e não há a quem pregar se não aos peixes, ou se é porque o sal salga, mas a terra se não se deixa salgar, há quem queira ser doutrinado, mas apenas isso.
Pregarei eu então - aos peixes.
04.11.2011 – Sermão de Santo(s) Álvaro Pereira aos “peixes”
Será o princípio do fim da crise,
St. Pereira, V de hoje
«Nós Portugueses (…)», diz Álvaro Santos Pereira, senhor nosso, primeiro ministro de Portugal, falando com o povo que tudo abarca, «(…)estamos no princípio do fim da crise»: e por princípio do fim da crise entenda-se a chegada do fim da crise às terras portuguesas.
O dever de todos esses governos é encaminhar o povo a uma terra sem crise. E por crise entenda-se todas as falácias de pensamentos e vontades mal-empregues, se do povo ou do governo ideias frescas fossem trabalhadas nas mesas orientadoras do país.
Mas quando Portugal se vê tão afundado, quanto mais do Tejo, pela crise que tem ofício nas mãos de portugueses, que haverá do Santo(s) se não pregar junto ao Cais no desespero acumulado de cabeças e cabeças de peixitos que por tudo temem ser pregados?
Ou é porque o Pereira não dá fruto e não há o povo de querer acreditar no princípio do fim; Ou é porque o povo de tão saturado ouvido, jamais se desabituará da crise e o princípio do fim não irá chegar; Ou é porque o Álvaro não é nenhum Santo(s) e já diz que não declarara o fim da crise e o povo crê que esta não tem princípio nem fim; Ou é porque estão os portugueses destinados ao desafortunado piedoso mundo da crise.
20.11.2011 Escrevendo
Porque escrevo se não sinto?
Porque leio se não vejo?
Escrever, para mim é aborrecido. Mas eu gosto.
Não escrevo por gostar, apenas porque é aborrecido,
E quando gosto, não escrevo porque não sinto o que vejo.
Se visse o que sinto e se sentisse o que vejo, talvez escrevesse por gosto, mas aí iria deixar de ser aborrecido escrever, e eu não gostaria.
Escrevendo o que leio, não vejo o que sinto e não sinto o que vejo e isso é aborrecido.
Por isso gosto de escrever o que não escrevo e ler o que não leio.
23.11.2011 Fim do tempo
Sou pele-vermelha no seio da terra
Respiro ar perturbado dos senhores
Que agora tomando os céus
Movimentam as estrelas.
Bons foram os antigos tempos
Em que as estrelas eram estrelas, e se contavam
Os pássaros viajavam
Sem nada temer no próximo destino.
Pele-vermelha sente
Atormentar de ventos piedosos
De máquinas de ferro
Destruindo, o que já não há para destruir.
Seco o mundo por fora
Eu vejo pele-vermelha
Perdido do nada
Rejeitado pelos seus.
Corre num choro bramindo,
Brando: morre a terra.
Gabriel Filipe Gonçalves, n10
11E
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