quarta-feira, 12 de junho de 2013

Páginas do diário da Ana Rita Azevedo



19 de Dezembro de 2011
Ali estava ele, todo imponente e ostensivo. Velho e sábio que me observava há anos.
Finalmente ganhei coragem (também por não ter outra hipótese), peguei-lhe e …A-tchin, foi a primeira coisa que me saiu da boca.
Conclusão, era óbvio que ninguém lhe pegava há anos. Até as páginas pareciam mais velhas que a capa. Cheias de anotações, dos tempos em que foi folheado pela minha mãe.
Enfim, agora é ter coragem para acabar de ler uma obra como Os Maias.

22 de Dezembro de 2011
O que é um bom livro? O que é um bom escritor? Todos têm opiniões distintas.
No que toca aos melhores escritores, uns dizem que foi Shakespeare, outros dizem que foi Camões, e outros chegam a dizer Ken Follet. Todos têm os seus gostos, as suas opiniões sobre o que é um bom escritor.
Nos livros não é diferente. Algumas pessoas afirmam que os melhores devem ser baseados na realidade, outros dizem que são os policiais, os de fantasia…
 Bem! Existem diversos escritores e livros diferentes. De todos os géneros e feitios, pois ninguém possui as mesmas ideias, o que faz com que sejamos todos diferentes.

6 de Janeiro de 2012
TEMAS ESQUISITOS
Nas aulas de português há sempre dois alunos que fazem apresentações orais.
Nada de especial, lêem  um texto escolhido por eles, ou uma página de diário, e depois falam sobre algo à sua escolha, ou relacionado.
Nada de especial, nem complicado. O pior é a seguir. Pode ter-se falado da coisa mais banal de sempre, mas os temas para a dissertação que saem da cabeça da professora Risoleta, fazem-me pensar de onde é que aquele tema saiu? E repete vezes e vezes sem conta….




12 de Março de 2012
Existe todo o tipo de vozes. Vozes graves, agudas, grossas, finas, de homem, de crianças, de mulher….
A minha voz é normalmente fina, mas quando me irrito ela começa a ficar cada vez mais fininha. Até me passa a raiva, só pela figura de parecer um desenho animado. Nem parece que falo português.
Aposto que um dia vou irritar-me de tal forma que a minha voz será capaz de partir um copo. Ao menos ou para rir da figura que vou fazer.





14 de Março de 2012
PASTÉIS DE NATA
Hoje, estava a passear calmamente pela baixa lisboeta, quando de repente fui seduzida pelo cheiro que provinha de uma pastelaria de aspeto antigo.
Ao entrar, vi uns pastéis de nata com um aspecto maravilhoso, acabadinhos de fazer.
Não consegui resistir e pedi um pastel de nata e um café. Comi vagarosamente, aproveitando aquele momento, naquela pastelaria inspiradora, muito mais antiga que eu. Eu nunca vira nada tão antigo.
Era deveras antiga.  Daquelas que passam de geração em geração. Será que o Cesário Verde apreciou um momento assim naquela pastelaria, como eu?

6 de Abril de 2012
SEXTA-FEIRA SANTA
Sexta-feira santa
Vou rezar em campo aberto
Talvez descubra a campa
Onde enterraram o que é certo

Minha fé está abalada
Não é de agora, é de há muito
Entrei num refasto deserto
Sobreposto por grossa camada

Desilusão, é mentira
De crenças que não são nada
Minha fé está abalada
E a culpa é do homem esperto



15 de Abril de 2012
Ontem vi, pela janela da sala da aula de português , uma criatura lindíssima, e também uma das que mais amo.
Um cavalo negro como o carvão, a pastar calmamente, junto ao cemitério, quando de repente levanta a cabeça, e observa algo na minha direcção.
Que saudades que tenho de montar aquelas criaturas magníficas.
Adorava ter nascido na época d'Os Maias, onde quase todas as pessoas possuíam um cavalo.
Não pelos vestidos, nem bailes nem estatutos, apenas pelos cavalos. Se pudesse montar todos os dias era a rapariga mais feliz do século.


18 de Abril de 2012
Na passada aula de português a minha colega Teresa perguntou se havia algum grupo de teatro na escola.
De repente imaginei a turma toda a representar uma peça de teatro. Talvez Frei Luís de Sousa
A Teresa com as suas brincadeiras, o Alexandre de volta dos figurinos, o Gabriel a ensaiar, e muito mais…
Quando dei por mim estava com uma vontade enorme de me desmanchar a rir.

23 de Abril de 2012
GOUVARINHO
Estava a passear pelas ruas de Lisboa, e ficava chocada a cada minuto que passava. Jovens a namorar no meio da rua, adolescentes grávidas a passar, mulheres e homens cheios de metal na cara, homens e mulheres de mãos dadas com pessoas do mesmo sexo.
Todos de faixas sociais diferentes, mas sem se importarem. Tudo o que eu achava impossível e inimaginável tomou forma.
Para mim era tudo estranho e impensável, mas ao que parece a estranha ali era eu…

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