Sou escova da Maria
Todas as noites
antes de
dormir
separo os
seus longos cabelos
tão longos
quanto a sua inteligência
O pequeno
fruto
tão pobre,
tão pequeno,
tão nova, tão sofrida
Oh! Mal sabe
o que a espera
De cabelos
iguais aos de sua mãe Madalena,
estes
cheiram a doença e veneno,
e têm um
toque peculiar
de desgraça
e desespero.
Audácia do
pensamento
Cabeça
humana sem limites
tudo o que
pensa é privado,
a não ser que o partilhe.
Aquilo que
tem apenas uma barreira,
a nossa
permissão para se soltar
é de grande
atrevimento aquilo que estamos a pensar.
Máscaras
Conta-me o
que escondes.
Refugias-te
nesse disfarce,
Imitando
viscondes
Nessa
máscara que arrasta mistério.
Vomitas uma
certa arrogância,
Deixas um
cheiro que me persegue.
Foges com
elegância
E eu
exaltante como mais ninguém consegue.
Observei aquele senhor. Era invulgar,
tinha uma cara memorável. De cabelo grisalho e bigode e uma grande barriga, tão
grande que tinha um centro gravitacional porque tudo girava à sua volta, a
atenção de todos centrava-se nele. De postura imponente não passava
despercebido, aliás porque tinha algo diferente, difícil de explicar… era
assim… “ um senhor com uma voz cheia de dentes”.
Fugitiva com
o meu fruto
Dissecaste-me
o coração.
Raptaste a
minha luz e
Carreguei
com a adulteração.
Sempre a senhora na mesma janela, na mesma
varanda, todos os dias, toda a vida.
Coitada! O tempo passou por ela e deixou
marcas, trilhos na sua pele como aqueles que há na terra. A velhice destruiu o
seu interior, não o lado dócil e pensativo, mas a doença rasgou o seu corpo e
agora só resta um cadáver pesado pousado à janela a desfrutar a sua última
vista.
Eu, mulher
bela e altiva
Reparei em
ti pela primeira vez,
quando te
espezinhava
e tu
amando-me talvez.
Eu na figura
de diabo,
Depois de te
infetar com o meu veneno,
E de te
transbordar com o teu falso amor,
Comando-te meu
escravo pequeno!
Ganhei este
jogo de sedução
Representei
uma mulher perfeita e amorosa,
Mergulhaste
na minha armadilha perdedor uma figura rancorosa.
De quem não me
despedi
…
Depois do
telefonema a notícia foi-me dada. Estática e imparcial por dois segundos. Tempo
de reação. O meu corpo reagiu. O sangue do meu corpo caiu a uma velocidade
impressionante aos meus pés, deixando-me numa figura pálida quase como um
cadáver; de seguida como se me tivessem rasgado a pele do peito, invadiu o meu
corpo e apertou o meu coração, só me apetecia gritar até os meus pulmões
encolherem como uma passa de uva, mas também me estavam a sufocar a garganta.
Nesse
momento a minha mente atuou. Fotografias congeladas no meu cérebro quebraram o
gelo e voltaram à tona. Uma infeção de bons momentos, alegria e recordações
apoderou-se da minha mente e dominou os meus olhos, e apenas estes me
conseguiram aliviar esta tensão.
Rita Viela
Os filhos de Abraão
ResponderExcluirOs gritos ainda ecoam
Em cada canto, em cada trincheira,
Em todos os túmulos.
Restos mortais exibidos
Como souvenires
Enchem de orgulho
O primitivo estágio ariano.
O sangue do cordeiro
Continua a jorrar
No solo árido.
Até que ponto a Bestialidade
Deixará de existir em um mundo
Que se deseja mais humano!
Crente ou ateu
Incrédulo ou cético,
Auschwitz continua vivo em nossa memória:
Um pesadelo que brotou
E nunca mais se apagou.
Inocentes ali pereceram,
Sobreviventes dali morreram,
Levaram todos para o túmulo
O sacrifício dos filhos de Abraão.
*Do livro (O Anjo e a Tempestade) de Agamenon Troyan