Tentar saber o que
escrever
É ver o tempo a passar
Ver o sol poisar
Desnudando o céu ao
luar
É como esperar pela
Primavera
Enquanto as folhas
caem
Sabendo que foi
sincera
A morte daquela flor
Tentar saber o que
escrever
É esperar que a
Inspiração venha
É amar sem saber
Mesmo que nada se
tenha
Um Dia
O que eu gostaria de
fazer um dia é o que desejo fazer amanhã.
Ao fim do dia que
tanto esperei, contemplo.
Nada Mudou.
Então porquê quando
recuo apenas um pouco mais parece-me que nada é como era?
Penso.
Sou tal como uma
árvore, que cresce que se divide em vários ramos mas que mantém-se sempre fiel
ao sítio onde nasceu. Essa Terra tão
amada que de uma semente e sem mais nada fez aquela árvore, que agora dá sombra
ao Mundo.
Eu não vos quero dar conselhos
Já se dizia naquele
tempo, dos costumes dos dias passados à luz do candeeiro de petróleo.
“Eu não vos quero dar
conselhos”
Aquela mentira
verdadeira que eu mesmo conheço, aquela que já tem barbas como os senhores
daquele tempo.
Ouvi-a agora há pouco
tempo, dizia-a Telmo, o da peça de Garrett.
Ainda mal o conhecia e
ele com tais intimidades vem falar-me de conselhos o que me deixou a pensar.
Essa frase que não
caiu em desuso desde esse tempo que não faz sentido.
Ora a dizem e passado
isso estão a debitar os tais conselhos.
O que me faz lembrar
que se os conselhos fossem bons vendiam-se como diz a famosa frase!
Desde esse tempo que
as pessoas não dão conselhos dão instruções.
Instruções como
aquelas que vêm com os eletrodomésticos – Se não as seguimos …
Eles não funcionam.
E lá continuam
debitando essas instruções como se fossem donas da razão.
Se não seguirmos essas
instruções a vida … Será que também não funciona?
Donzela do Romântico
Tenho andado a ouvir
nas aulas o que o Garrett tinha, ou teve a dizer sobre o romantismo.
Não poderíamos estar
mais de acordo.
Coisa de pessoas
lamechas.
Tempo de Exageros.
Para mim até de alguma
piroseira, menos hoje, que não sei porquê, mas assim é
Sinto-me uma donzela
desse período.
Vencida pelas
inconveniências do destino.
Hoje e só hoje posso
ouvir falar dos românticos,
Porque hoje e só hoje
o sofrimento deles me parece não ser tão absurdo assim.
Exercício de Estilo – inspirado no
livro de Raymond Queneau
Anotações
Entrei no autocarro.
O autocarro ia muito
cheio, as pessoas apertadas.
Soprava e suspirava
para que chegasse a minha paragem.
Finalmente saíram
algumas pessoas.
Avistei um lugar vago.
Apressei-me para o
ocupar mas, uma senhora de nariz empinado sentou-se primeiro.
Hipérbole
Quando ia a entrar no
autocarro deparei-me com este cenário.
Nunca houvera antes
tão cheio autocarro. Tão cheio ia que as
portas mal fechavam. Tão piedoso que era aquele cenário! As pessoas todas amontoadas! Até ao teto
vejam só! Tão apertadas que iam só
mexiam os olhos.
Claro está nem sei
como me consegui lá enfiar!
Estava esbaforida já
espumava de irritação suspirando para que chegasse a minha paragem.
Graças a Deus que
saíram pessoas numa paragem qualquer importante.
Um lugar vago!!! Um
pedaço do paraíso! Uma dádiva!
Corri o mais rápido
que pude o lugar ia ser meu!!!
Lugar ocupado …
Uma mulher com um
nariz empinado. Tão empinado que se a olhasse de baixo via as suas entranhas
pelas narinas tinha-o ocupado!!
Desejei que o seu
nariz empinado tão empinado enregelasse com o frio e caísse nos próximos meses
de Inverno!
Fazer as malas
Tarefa complicada,
para mim sobretudo dolorosa.
Faço-a poucas vezes,
sou pessoa pouco viajada, fico-me pelas viagens que faço a dormir.
Quando faço as malas
tenho sempre medo de me esquecer de algo, fico sempre com um receio sobre o
qual não sei a origem.
Já arrumei a mala …
O estômago continua
num reboliço.
Forma-se um grande nó
na Garganta
Ainda não saí e já
penso em voltar
Não consigo deixar de
me comparar com um pássaro que caiu do seu ninho.
Força de vontade – A Lisboa
A cidade vive cheia de
força de vontade,
Insiste em não parar
mesmo quando já todos pareceram desistir
Brinca teimosa com as
luzes acesas mesmo quando o sol já foi despedido
A cidade vive cheia de
força de vontade, e os que vivem nela cansados dessa força, já exaustos
Eu e João Ega
Conheci nos Maias este
dito sujeito, deveras … curioso?
Captou sem dúvida a
minha atenção. Foi imediato!
Rápido!
Irritava-me,
seduzia-me.
O facto de serem tão
disparatadas mas tão verdadeiras as convicções que este homem atirava à cara do
Mundo com a força de quem acredita que no fim, ainda há hábitos que podem ser
mudados.
Eu e Carlos da Maia
Como é triste a
rapidez e a velocidade
Infeliz esse fenómeno
que faz com que tão rápido as coisas percam o interesse,
Se não fosse assim,
essa maldita velocidade que rapidamente me traz o desinteresse, poderia olhar
para amanhã com os mesmos olhos de criança com que vi o dia de Hoje.
Ideias Pré-concebidas ou
Pré-fabricadas? Crónicas sobre a aula de Português e outras coisas
Mesmo que nos gabemos
da nossa independência, do nosso narizinho empinado e do particular jeito
opinativo, às vezes não passamos de um cromo igual aos outros.
Ultimamente tenho
presenciado isso sempre que se fala desse livro que parece fazer parte do
nosso fado este ano “Os Maias”.
Sempre que se fala no
livro … Oh…Oh
O horror! As
expressões aterrorizadas e também confusas. Os olhos esbugalhados só de pensar
na leitura do calhamaço.
Até se pode
compreender! Às vezes os calhamaços a algumas pessoas são úteis para servir de
almofada!
Eu que também me
caracterizo por ser uma espécie curiosa faço a pergunta óbvia – “Já acabaste de
ler?”
A resposta que se
segue é – “Não!!!”
Muitas vezes ouvi o
típico “Nem saí do 1º capítulo!”
Como já disse sou uma
pessoa curiosa e fico a pensar …
Se não o leu … Como
sabe que é mau …?
Só me leva a pensar
que as pessoas tratam os livros como tratam as outras pessoas.
Se não lhes agrada a
capa ou as primeiras páginas,
Já não lhes interessa
ouvir o resto da história.
A minha cidade às vezes olha por mim
Se como eu ando por
estas ruas,
Desço estas escadas,
A cidade pudesse
vaguear pelos meus braços,
Despentear-me o
cabelo,
As luzes dos seus
candeeiros iluminariam fugaz o meu olhar.
O barulho frenético
faria com que a minha boca não se calasse.
As pessoas apressadas
fariam com que tivesse cócegas a toda a hora
O cheiro das ruas …
Era ver as minhas narinas a dilatar
Como eu olho para a
cidade … Se ela olhasse assim para mim …
Era de certeza um amor
sem fim onde o amor e o ódio desta canseira fazem com que não a trocasse por
nada.
Poesia – Crónicas sobre a aula de
Português e outras coisas
Convencida com as
leituras matutinas da aula de Português vi a poesia enobrecer-se perante os
meus olhos.
Antes indiferente hoje
contemplada com um certo respeito de quem não a sabe escrever.
Foi assim que ontem
num passeio entre bancas e banquinhas de livros comprei o meu primeiro livro de
Poesia.
Não sabia o que
escolher e como alguém que não percebe da coisa convidei os poetas todos pela
casa dentro numa coletânea.
Antes de adormecer na
cama desfolhei esses poetas e ouvi o que uns quantos tinham para me dizer.
Naquela noite em que
dei um passo para o desconhecido senti que adormeci com um espírito mais
enobrecido que o habitual.
Ruas de Panos
São estas ruas sujas,
gastas e pisadas
Vão pisando os pés daqueles
monstros
O barulho ensurdecedor
do motor,
Do monte de metal
Guiado por gente fina
Que vê pela janela o
povo de Portugal
São eles que pisam
estas ruas,
Com sola dos sapatos
gastos
Cobertos com panos da
loja da esquina
Passeando-se como gente
fina
Já misturados com essa
gente
Nasce a Inveja que
irriga os seus olhos
Por não passarem
naquela Lisboa
Com uma coroa na
cabeça!
Ficam olhando de viés
em espera,
Que aquela gente
grande empobreça
Acima de tudo são
esperanças.
Que este país
desapareça
No meio dessa gente
Há pouca!
Mas há gente contente
Que desliza por essas
ruas em bicos dos pés
Com medo de acordar as
víboras,
Vão andando por aí
Como quem não quer a
coisa
Andam indiferentes
Alheios a um sufoco
São os amantes de
Lisboa
Perdidos por ruas num
cantar baixo de um gemido triste e rouco.
Pátria
Vamos andando por aí,
Há uma insegurança,
Há um medo
Que cresce dentro de mim
Vou passando o tempo
Os olhos vagos e pesados
A expressão vazia e mortiça
Vêm os ponteiros rolar
Suplicando por mais um dia horrendo
Conseguimos ainda arrastando
Puxando os pés pela calçada
Polindo as ruas da Lisboa amada
Ver nascer mais um dia
Desta pátria condenada.
Crónicas sobre as aulas de Português e outras coisas – Eça
de Queirós e os Maias
Na aula de Português
aquela que acontece precisamente todas as segundas e quartas conhecemos este
curioso sujeito o Eça. Atento de
monóculo posto foi entrando pelas nossas vidas com o simples pretexto de ter
escrito Os Maias.
Escreve uma história
de amores, voltas e revoltas de uma sociedade que não é a nossa e ganha esta
bendita intimidade connosco.
Enquanto se vai
falando sobre este tal sujeito outra e outra vez uns alunos, de consciência
pesada de não terem lido a dita cuja obra do dito cujo sujeito desviam os olhos
da vidraça cujo nome é monóculo.
Eu por minha vez
acostumada já a esta intimidade dou por mim a divagar a pensar o que iria na
cabeça do dito cujo sujeito, esse, o Eça quando escreveu uma História de Amor
que inevitavelmente continua a ser um marco deste pequeno País.
Realismo
Ouvi falar dessa coisa
do Realismo.
O que é senão o
Realismo aquilo que se vê através dos olhos de alguém cansado pelo mundo.
Turva a vista,
entristece a alma que outrora quem sabe teve esperanças de algo maior.
O contrário do
realismo não é mais do que aquilo que passa nos olhos de uma criança – o único
sítio onde as conversas, as ações, os gestos já cinzentos gastos pela vida
ganham outra cor.
Na altura d'Os Maias – Crónica
Algures no tempo em
que se passou a famosa desgraçada História de Amor de Carlos da Maia e Maria
Eduarda, o amor fazia-se parecer bonito.
Apresentava-se
sorrateiramente como quem não quer a coisa, nele crescia um cavalheirismo
galante enquanto nela via-se aquele sorriso comprometido, as faces rosa.
O Amor fazia-se a
sério! Com classe!
Quando era Amor era
para a vida toda e quando não era ao menos era uma coisa digna da capa de um
jornal.
Hoje em dia o amor
apresenta-se em mensagens de telemóvel, confusões no computador e afins. Neles cresce um questionável sentido de humor
e nelas repara-se no contínuo acréscimo de à vontade de quem amou toda a vida.
Hoje dá-se o Amo-te a
troco de quase nada o que dizem ser Amor é sol de pouca dura e quando não é não
passa de uma historiazeca que se passou entre dois bares e uma discoteca.
Inês Gomes, 11º D
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