sábado, 2 de junho de 2012

Páginas de um diário literário


Tentar saber o que escrever
É ver o tempo a passar
Ver o sol poisar
Desnudando o céu ao luar

É como esperar pela Primavera
Enquanto as folhas caem
Sabendo que foi sincera
A morte daquela flor

Tentar saber o que escrever
É esperar que a Inspiração venha
É amar sem saber
Mesmo que nada se tenha



Um Dia

O que eu gostaria de fazer um dia é o que desejo fazer amanhã.
Ao fim do dia que tanto esperei, contemplo.
Nada Mudou.
Então porquê quando recuo apenas um pouco mais parece-me que nada é como era?
Penso.
Sou tal como uma árvore, que cresce que se divide em vários ramos mas que mantém-se sempre fiel ao sítio onde nasceu.  Essa Terra tão amada que de uma semente e sem mais nada fez aquela árvore, que agora dá sombra ao Mundo.



Eu não vos quero dar conselhos

Já se dizia naquele tempo, dos costumes dos dias passados à luz do candeeiro de petróleo.
“Eu não vos quero dar conselhos”
Aquela mentira verdadeira que eu mesmo conheço, aquela que já tem barbas como os senhores daquele tempo.
Ouvi-a agora há pouco tempo, dizia-a Telmo, o da peça de Garrett.
Ainda mal o conhecia e ele com tais intimidades vem falar-me de conselhos o que me deixou a pensar.
Essa frase que não caiu em desuso desde esse tempo que não faz sentido.
Ora a dizem e passado isso estão a debitar os tais conselhos.
O que me faz lembrar que se os conselhos fossem bons vendiam-se como diz a famosa frase!
Desde esse tempo que as pessoas não dão conselhos dão instruções.
Instruções como aquelas que vêm com os eletrodomésticos Se não as seguimos …
Eles não funcionam.
E lá continuam debitando essas instruções como se fossem donas da razão.
Se não seguirmos essas instruções a vida … Será que também não funciona?



Donzela do Romântico

Tenho andado a ouvir nas aulas o que o Garrett tinha, ou teve a dizer sobre o romantismo.
Não poderíamos estar mais de acordo.
Coisa de pessoas lamechas.
Tempo de Exageros.
Para mim até de alguma piroseira, menos hoje, que não sei porquê, mas assim é
Sinto-me uma donzela desse período.
Vencida pelas inconveniências do destino.
Hoje e só hoje posso ouvir falar dos românticos,
Porque hoje e só hoje o sofrimento deles me parece não ser tão absurdo assim.



Exercício de Estilo – inspirado no livro de Raymond Queneau
 

 Anotações

Entrei no autocarro.
O autocarro ia muito cheio, as pessoas apertadas.
Soprava e suspirava para que chegasse a minha paragem.
Finalmente saíram algumas pessoas.
Avistei um lugar vago.
Apressei-me para o ocupar mas, uma senhora de nariz empinado sentou-se primeiro.

Hipérbole

Quando ia a entrar no autocarro deparei-me com este cenário.
Nunca houvera antes tão cheio autocarro.  Tão cheio ia que as portas mal fechavam. Tão piedoso que era aquele cenário!  As pessoas todas amontoadas! Até ao teto vejam só!  Tão apertadas que iam só mexiam os olhos.
Claro está nem sei como me consegui lá enfiar!
Estava esbaforida já espumava de irritação suspirando para que chegasse a minha paragem.
Graças a Deus que saíram pessoas numa paragem qualquer importante.
Um lugar vago!!! Um pedaço do paraíso! Uma dádiva!
Corri o mais rápido que pude o lugar ia ser meu!!!
Lugar ocupado …
Uma mulher com um nariz empinado. Tão empinado que se a olhasse de baixo via as suas entranhas pelas narinas tinha-o ocupado!!
Desejei que o seu nariz empinado tão empinado enregelasse com o frio e caísse nos próximos meses de Inverno!



Fazer as malas

Tarefa complicada, para mim sobretudo dolorosa.
Faço-a poucas vezes, sou pessoa pouco viajada, fico-me pelas viagens que faço a dormir.
Quando faço as malas tenho sempre medo de me esquecer de algo, fico sempre com um receio sobre o qual não sei a origem.
Já arrumei a mala …
O estômago continua num reboliço.
Forma-se um grande nó na Garganta
Ainda não saí e já penso em voltar
Não consigo deixar de me comparar com um pássaro que caiu do seu ninho.



Força de vontade – A Lisboa

A cidade vive cheia de força de vontade,
Insiste em não parar mesmo quando já todos pareceram desistir
Brinca teimosa com as luzes acesas mesmo quando o sol já foi despedido
A cidade vive cheia de força de vontade, e os que vivem nela cansados dessa força, já exaustos
Seduzidos pela ideia de um retiro, duma escapadela dali para fora, dormem



Eu e João Ega

Conheci nos Maias este dito sujeito, deveras … curioso?
Captou sem dúvida a minha atenção.  Foi imediato!
Rápido!
Irritava-me, seduzia-me.
O facto de serem tão disparatadas mas tão verdadeiras as convicções que este homem atirava à cara do Mundo com a força de quem acredita que no fim, ainda há hábitos que podem ser mudados.



Eu e Carlos da Maia

Como é triste a rapidez e a velocidade
Infeliz esse fenómeno que faz com que tão rápido as coisas percam o interesse,
Se não fosse assim, essa maldita velocidade que rapidamente me traz o desinteresse, poderia olhar para amanhã com os mesmos olhos de criança com que vi o dia de Hoje.




Ideias Pré-concebidas ou Pré-fabricadas? Crónicas sobre a aula de Português e outras coisas

Mesmo que nos gabemos da nossa independência, do nosso narizinho empinado e do particular jeito opinativo, às vezes não passamos de um cromo igual aos outros.
Ultimamente tenho presenciado isso sempre que se fala desse livro que parece fazer parte do nosso fado este ano “Os Maias”.
Sempre que se fala no livro … Oh…Oh
O horror! As expressões aterrorizadas e também confusas. Os olhos esbugalhados só de pensar na leitura do calhamaço.
Até se pode compreender! Às vezes os calhamaços a algumas pessoas são úteis para servir de almofada!
Eu que também me caracterizo por ser uma espécie curiosa faço a pergunta óbvia – “Já acabaste de ler?”
A resposta que se segue é – “Não!!!”
Muitas vezes ouvi o típico “Nem saí do 1º capítulo!”
Como já disse sou uma pessoa curiosa e fico a pensar …
Se não o leu … Como sabe que é mau …?
Só me leva a pensar que as pessoas tratam os livros como tratam as outras pessoas.
Se não lhes agrada a capa ou as primeiras páginas,
Já não lhes interessa ouvir o resto da história.


A minha cidade às vezes olha por mim

Se como eu ando por estas ruas,
Desço estas escadas,
A cidade pudesse vaguear pelos meus braços,
Despentear-me o cabelo,
As luzes dos seus candeeiros iluminariam fugaz o meu olhar.
O barulho frenético faria com que a minha boca não se calasse.
As pessoas apressadas fariam com que tivesse cócegas a toda a hora
O cheiro das ruas … Era ver as minhas narinas a dilatar
Como eu olho para a cidade … Se ela olhasse assim para mim …
Era de certeza um amor sem fim onde o amor e o ódio desta canseira fazem com que não a trocasse por nada.



Poesia – Crónicas sobre a aula de Português e outras coisas

Convencida com as leituras matutinas da aula de Português vi a poesia enobrecer-se perante os meus olhos.
Antes indiferente hoje contemplada com um certo respeito de quem não a sabe escrever.
Foi assim que ontem num passeio entre bancas e banquinhas de livros comprei o meu primeiro livro de Poesia.
Não sabia o que escolher e como alguém que não percebe da coisa convidei os poetas todos pela casa dentro numa coletânea.
Antes de adormecer na cama desfolhei esses poetas e ouvi o que uns quantos tinham para me dizer.
Naquela noite em que dei um passo para o desconhecido senti que adormeci com um espírito mais enobrecido que o habitual.



Ruas de Panos

São estas ruas sujas, gastas e pisadas
Vão pisando os pés daqueles monstros
O barulho ensurdecedor do motor,
Do monte de metal
Guiado por gente fina
Que vê pela janela o povo de Portugal
São eles que pisam estas ruas,
Com sola dos sapatos gastos
Cobertos com panos da loja da esquina
Passeando-se como gente fina
Já misturados com essa gente
Nasce a Inveja que irriga os seus olhos
Por não passarem naquela Lisboa
Com uma coroa na cabeça!
Ficam olhando de viés em espera,
Que aquela gente grande empobreça
Acima de tudo são esperanças.
Que este país desapareça
No meio dessa gente
Há pouca!
Mas há gente contente
Que desliza por essas ruas em bicos dos pés
Com medo de acordar as víboras,
Vão andando por aí
Como quem não quer a coisa
Andam indiferentes
Alheios a um sufoco
São os amantes de Lisboa
Perdidos por ruas num cantar baixo de um gemido triste e rouco.



Pátria
Vamos andando por aí,
Há uma insegurança,
Há um medo
Que cresce dentro de mim

Vou passando o tempo
Os olhos vagos e pesados
A expressão vazia e mortiça
Vêm os ponteiros rolar
Suplicando por mais um dia horrendo

Conseguimos ainda arrastando
Puxando os pés pela calçada
Polindo as ruas da Lisboa amada
Ver nascer mais um dia
Desta pátria condenada.



Crónicas sobre as aulas de Português e outras coisas – Eça de Queirós e os Maias

Na aula de Português aquela que acontece precisamente todas as segundas e quartas conhecemos este curioso sujeito o Eça.  Atento de monóculo posto foi entrando pelas nossas vidas com o simples pretexto de ter escrito Os Maias.
Escreve uma história de amores, voltas e revoltas de uma sociedade que não é a nossa e ganha esta bendita intimidade connosco.
Enquanto se vai falando sobre este tal sujeito outra e outra vez uns alunos, de consciência pesada de não terem lido a dita cuja obra do dito cujo sujeito desviam os olhos da vidraça cujo nome é monóculo.
Eu por minha vez acostumada já a esta intimidade dou por mim a divagar a pensar o que iria na cabeça do dito cujo sujeito, esse, o Eça quando escreveu uma História de Amor que inevitavelmente continua a ser um marco deste pequeno País.


Realismo

Ouvi falar dessa coisa do Realismo.
O que é senão o Realismo aquilo que se vê através dos olhos de alguém cansado pelo mundo.
Turva a vista, entristece a alma que outrora quem sabe teve esperanças de algo maior.
O contrário do realismo não é mais do que aquilo que passa nos olhos de uma criança – o único sítio onde as conversas, as ações, os gestos já cinzentos gastos pela vida ganham outra cor.

Na altura d'Os Maias – Crónica

Algures no tempo em que se passou a famosa desgraçada História de Amor de Carlos da Maia e Maria Eduarda, o amor fazia-se parecer bonito.
Apresentava-se sorrateiramente como quem não quer a coisa, nele crescia um cavalheirismo galante enquanto nela via-se aquele sorriso comprometido, as faces rosa.
O Amor fazia-se a sério! Com classe!
Quando era Amor era para a vida toda e quando não era ao menos era uma coisa digna da capa de um jornal.
Hoje em dia o amor apresenta-se em mensagens de telemóvel, confusões no computador e afins.  Neles cresce um questionável sentido de humor e nelas repara-se no contínuo acréscimo de à vontade de quem amou toda a vida.
Hoje dá-se o Amo-te a troco de quase nada o que dizem ser Amor é sol de pouca dura e quando não é não passa de uma historiazeca que se passou entre dois bares e uma discoteca.

Inês Gomes, 11º D

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